quarta-feira, 1 de julho de 2009

Sexo oral

Primeiro a tua língua molha o meu coração,
num vagar de fera.
Estendo aurícula e ventrículos sobre a mesa,
entre os copos que desaparecem.
Não há mais ninguém no bar cheio de gente.
Abres-me agora os pulmões,
um para cada lado,e sopras.
Respiras-me.
O laser das tuas palavras rasga-me o lobo frontal do cérebro.
A tua boca abre-se e fecha-se,
fecha-se e abre-se,
avançando por dentro da minha cabeça.
As minhas cidades ruem como rios,
correndo para o fundo dos teus olhos.
O tempo estilhaça-se no fogo preso das nossas retinas.
O empregado do bar retira da mesa o nosso passado
e arruma-o na vitrina,
ao lado dos exércitos de chumbo.
Entramos um no outro,
abrindo e fechando as pernas das palavras,
estremecendo no suor dos olhos abraçados,
fazendo sexo com a lava incandescente dessa revolução imprevista
a que damos o nome de amor.
Inês Pedrosa

2 comentários:

YellowMcGregor disse...

Hummm!...
Com textos espectaculares como este, até fico envergonhado com as minhas "Noites de Pompeia"... :P

Com um ramo de :-)

RD disse...

gostei;)